Wednesday, February 06, 2019

Um objeto, a dor...

     Roberval andava cabisbaixo, ninguém entendia o porque. Andava de um lado para outro, resmungando para si.
    Não queria ter feito aquilo, foi exagerado, não precisava de tudo aquilo. Parou um pouco sentou em sua cadeira, pensou: "deveria ter esperado, ter ido com mais calma, não ter gritado".
    Roberval pensou, pensou..... Pegou o telefone, começou a discar, parou. Pensou um pouco mais, será que deveria ligar. Afinal ele tinha sido o errado.
    Respirou, voltou ao seu projeto, se concentrava, ufa, conseguiu voltar a si, não pensou mais sobre aquela manhã. Afinal, o projeto era curto, tinha que entregar e não poderia ficar pensando em "pormenores".
    Pegou um ótimo ritmo estava quase acabando, quando veio na mente aquela manhã. Que merda!!! Porque mesmo eu briguei? - pensou. 
    Quando estava indo almoçar, aquele aperto no coração, aquela vontade veio à tona, ligou, esperou atender, esperou, esperou... e nada. 
    Quando voltou do almoço retomou sua labuta, trabalhou, se organizou, se planejou. Trabalho, trabalho, trabalho. Que ritmo, se sentia orgulhoso, estava quase terminando seu projeto, nossa Roberval não sabia que era capaz de fazer tanto em tão pouco tempo.
    Respirava, colocava o lápis na boca, refletia sobre o projeto, voltava a rabiscar, de repente olhei para o relógio 15h40,  tudo ficou claro, sabia o que estava fazendo, sabia o que queria, aonde ia. Estava satisfeito, realizado.
    Voltando para casa, sensação deliciosa de dever cumprido, tinha conseguido realizar suas metas em tempo hábil, um sentimento de satisfação percorria seu corpo, indo embora no seu carro dirigindo, ouvindo as suas "baladas" preferidas, xingava, externava seus sentimentos, urrava.
    De repente, amarelo, vermelho o farol fechou, parou, voltou a pensar sobre aquela manhã, o dia não estava completo, tinha mais uma pendência para concluir. Precisava conversar com seu filho, sobre aquela briga que não tinha sentido, uma briga sobre o futuro, eu queria que ele fizesse Engenharia, ele queria conhecer o mundo... Buzinas, Roberval voltava a si, tinha que dirigir, estava chegando perto de sua casa, quando viu luzes vermelhas piscando... estranho, o que tinha acontecido, bombeiros, ambulância. Nossa o que aconteceu - foi seu primeiro pensamento. A medida que se aproximava de sua casa as luzes ficavam mais fortes, sentimento de preocupação tomou conta de seu corpo. 
    Chegou no portão de sua casa, não havia dúvidas, era ali, ficou atordoado, não sabia o que fazer, não sabia se corria, se ficava parado, se aproximava, se gritava... quando viu.... sua esposa.... 
    Ali, com seus cabelos loiros, meio bagunçados, estava em pé, braços cruzados, chorando copiosamente, sendo acolhida por uma policial, e ele não estava lá. 
    Me aproximei dela, passo a passo, refletindo e formando várias histórias em minha mente vazia. Quando cheguei perto, ela me olhou, e caiu em meus braços, chorando.
    -Me fala o que aconteceu!! Por favor, cadê o Júnior? Maria, cadê o Júnior?
    Ela chorava mais e mais em meus braços, não conseguia proferir uma palavra, era só choro, choro, choro.
    A policial olhava para mim, colocou o braço em meu ombro e me deu a pior noticia, que eu poderia ter ouvido.
    Júnior às 15:30, abriu o portão de sua casa munido de sua bicicleta, quando um rapaz de meia idade, visivelmente alterado, olhou para ele. Queria roubar sua bicicleta. O filho de Roberval, não poderia deixar sua bicicleta ir tão fácil, afinal era seu único meio de transporte, se divertia com ela, ia aonde queria, com sua bicicleta era livre.
    O rapaz vendo que não teria facilmente aquele objeto, que ele não queria tanto, sacou a arma presa em sua cintura, apontou para a cabeça de Júnior e ......... 

1 Comments:

At 6:49 AM, Blogger Millena said...

No início sinto a aflição de Roberval em querer resolver seus desentendimentos, algo normal de pai. No decorrer da história é nítido a ansiedade para a enfim chegada, com um final trágico e reflexivo. Famílias nunca perfeitas, relacionamentos com suas crises e esquecemos que a vida é mais, sentimentos e respeitos precisam ser demonstrados. São mais importantes ao invés de nossas verdades.

Muito bom!

 

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